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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O Avarento de Molière

 

A peça apresentada pelo Teatro Experimental do Funchal, é um sobejamente conhecido clássico do teatro universal. Creio muito honestamente que todas as personagens apresentadas neste sublime   trabalho são gente como nós, de uma humanidade evidente e flagrante – todas as personagens têm traços subtilmente definidos e estes dão forma a vulgares caricaturas do ser humano. É por isso, creio, que embora tenha sido escrito em 1668, é uma representação ainda muito actual. 

Saltando do texto um pouco para a peça em si, creio que esta encenação terá de ser vista como uma interpretação do grupo – é sempre assim quando se representa um texto escrito por outrem. Creio ser justo dizer que este texto foi transformado de maneira muito criativa e original. 

Passo então a justificar o meu porquê. Ao entrar na sala de teatro do Cine-Teatro Santo António o espectador mergulha automaticamente no universo da peça, uma vez que o pano se encontra completamente aberto os actores estão em palco em pose de estátuas, no palco encontra-se ainda dois 'chariots' onde estão penduradas todas as peças de guarda-roupa bem como os adereços. O espectador atento é capaz de observar ainda uma quantidade de setas desenhadas no chão do palco. 

Noto que é impossível, mais que seja pela pequenez do Cine-Teatro e pela proximidade do espectador com o actor, que o espectador não note os meus anteriores apontamentos. 

A peça começa e vai-se desenvolvendo a trama, quando de repente se ouve um som de uma qualquer máquina de dinheiro ao algo parecido. É então que os actores trocam de papeis. Tudo é feito em movimentos geométricos, precisos e mecânicos seguindo as supraditas setas colocadas no chão. Finda a troca de guarda-roupa e adereços, os actores param em jeito de estátua, antes de serem uma nova personagem. O processo repete-se ao longo da peça o que faz que em alguns momentos o espectador vá entrando numa espiral de tensão dramática.  

Este trabalho teatral, é a meu ver, esteve para demonstrar que nem todos os clássicos aquando levados à cena serão de ser chatos ou aborrecidos, antes pelo contrário. É também a prova viva da mestria de Molière e da criatividade de Diogo Correia Pinto que colocou este trabalho em cena.

Venham mais trabalhos do TEF, venha mais Teatro porque estou certo que a Madeira e em particular os funchalenses agradecem.

Bem hajam!

João Varela